sexta-feira, 29 de junho de 2018

Em Portugues


Português é eleito diretor-geral de organização da ONU para Migração

Governo brasileiro elogiou escolha e se colocou à disposição da OIM

Publicado em 29/06/2018 - 20:21

Por Agência Brasil* Brasília





O português António Vitorino foi eleito nesta sexta-feira (29) diretor-geral da Organização Internacional de Migração (OIM) em substituição ao americano William Lacy Swing. Em seis décadas, é a primeira vez que a entidade não será comandada por um norte-americano.

Vitorino, que assumirá o cargo em 1º de outubro, foi comissário europeu de Justiça e Interior (1999-2014) e ministro da Presidência e da Defesa (1995-1997) de Portugal no governo do então primeiro-ministro socialista António Guterres, atual secretário-geral da Organização das Nações Unidas.

Jurista por formação, Vitorino concorreu ao mais alto cargo da OIM com a costa-riquenha Laura Thompson, que foi diretora-geral adjunta da organização na última década.

Em setembro de 2016, a OIM se tornou a agência da ONU especializada em migrações, após cinco décadas como um órgão multilateral independente.

Desde sua fundação, a OIM só teve dirigentes norte-americanos, o que chegou a ser visto como uma espécie de tradição favorável para manter o importante apoio financeiro que os Estados Unidos deram à instituição.

Eleição

Além do português e da costa-riquenha, também concorreu ao cargo o americano Ken Isaacs que teve sua imagem muito associada à de Donald Trump e sua política migratória de tolerância zero, durante a campanha, tendo, inclusive, evitado comentar a construção de um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México e a separação de famílias de imigrantes ilegais.

O candidato americano foi eliminado na terceira rodada de votações, quando obteve apenas 22 votos, frente aos 52 da representante costa-riquenha e 69 do candidato português, cuja eleição foi confirmada na quinta rodada.

Brasil elogia escolha

O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, elogiou a escolha de António Vitorino. Em nota, o Itamaraty informou que o Brasil está à disposição para colaborar com o êxito do mandato do novo diretor-geral.

"O governo brasileiro faz votos de que o diretor-geral eleito da OIM tenha êxito na condução da organização como agência líder na área da migração, na implementação e no seguimento do Pacto Global sobre Migração; assim como em prol do cumprimento dos objetivos relacionados à migração na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável."

O Brasil integra a OIM ao lado de mais 165 países.

*Com informações da EFE

Edição: Denise Griesinger


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Assim foi decidido


Supremo suspende voto impresso nas eleições de outubro

Publicado em 06/06/2018 - 19:45

Por André Richter – Repórter da Agência Brasil Brasília





Por 8 votos a 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o uso do voto impresso nas urnas eletrônicas nas eleições de outubro deste ano. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (6) a partir de uma ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a impressão, sob a alegação de violação do sigilo do voto.

A impressão do voto foi criada em 2015, pela minirreforma eleitoral, com objetivo de garantir meios para embasar auditorias nas urnas eletrônicas. Mesmo com a garantia da Justiça Eleitoral de que o sistema de votação é seguro, questionamentos de alguns eleitores levaram o Congresso Nacional a criar o voto impresso.

Apesar de ser chamado de voto impresso, o mecanismo serve somente para auditoria das urnas eletrônicas, e o eleitor não fica com o comprovante da votação.

Ao entrar na cabine, o eleitor digitaria o número de seu candidato na urna eletrônica.  Em seguida, um comprovante para conferência apareceria no visor da urna. Se a opção estivesse correta, o eleitor confirmaria o voto, e a impressão seria direcionada para uma caixa lacrada, a ser analisada posteriormente pela Justiça Eleitoral. A fiscalização confirmaria, então, se os votos computados batem com os impressos.

No início do ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a fazer uma licitação para instalar impressoras em 30 mil urnas eletrônicas, o que representaria 5% do total, mas a compra foi suspensa. O contrato seria de aproximadamente R$ 60 milhões.  Com a decisão, o presidente do TSE e ministro do STF, Luiz Fux, informou que a licitação será revogada. Fux estava impedido de participar do julgamento.

Julgamento

Relator da ação da PGR, Gilmar Mendes votou pela manutenção do voto impresso, mas entendeu que a impressão deve ser implementada pela Justiça Eleitoral conforme a disponibilidade de recursos. Em seu voto, o ministro também criticou pessoas que contestam a segurança e confiabilidade das urnas eletrônicas. O entendimento foi acompanhado por Dias Toffoli.

“Há uma ideia de que a votação, toda ela, no Brasil, é fraudada, e que o eleitor vai ter o voto impresso e vai levar para casa. Vai colocar no bolso e levar para casa. Daqui a pouco, farão uma apuração particular. Vende-se um tipo de ilusão. Beira ou já ultrapassou os limites do ridículo”,afirmou.

A divergência foi aberta pelo ministro Alexandre de Moraes, que votou contra a norma que criou o voto impresso por entender que a medida compromete a confidencialidade do voto. Segundo Moraeso, a impressão permite a possibilidade de identificação do eleitor, podendo causar pressão indevida para que o cidadão vote em favor de alguém.

"Se será impresso alguma coisa para fazer a conferência, alguém vai ter que colocar esse voto impresso em algum lugar, vai poder ter conhecimento desse voto impresso.", argumentou Moraes.

Luís Roberto Barroso, que também votou contra a impressão, disse que não há evidência de fraude que justifique a implantação do voto impresso. Barroso argumentou que também inviabilizam o voto impresso o alto custo de implementação, de aproximadamente de R$ 2 bilhões, e o risco da quebra de sigilo.

"Os controles atualmente existentes são suficientes, não envolvem custos elevados. Nada documenta que tenha ocorrido quebra da segurança ou que tenha ocorrido fraude", acrescentou Barroso.

A presidente do STF, Cármen Lúcia, também reforçou que não há indícios de fraude que justifiquem o uso do voto impresso, que poderia quebrar o sigilo. "É preciso que a gente aprenda a confiar nas instituições brasileiras, especialmente nas que dão certo, e a Justiça Eleitoral tem dado certo. O processo de voto eletrônico e da urna eletrônica tem dado certo”, afirmou.

O entendimento contra a impressão também foi acompanhado pelos ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.

Suspeitas de fraude


TSE garante segurança da urna eletrônica, mas peritos criminais apontam vícios e falhas no sistema (José Cruz/Arquivo/Agência Brasil)


O advogado Alberto Emanuel Malta, representante do Sindicato dos Nacional dos Peritos Criminais Federais, defendeu, durante o julgamento, o uso do voto do impresso para aprimorar a segurança da votação. Durante sua sustentação, Malta disse que peritos que participaram de testes de segurança promovidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2017 conseguiram violar o programa da urna eletrônica.

"Esses profissionais conseguiram encontrar diversos vícios, diversas falhas, no sistema eletrônico de votação. A título de exemplo, conseguiram esses profissionais gerar boletim de urna falso, conseguiram obter a chave criptográfica da urna. Conseguiram ainda, o que é mais grave, alterar a ordem do RDV, que é o registro digital do voto, o que garante o sigilo do voto e, portanto, conseguiram identificar quem era o primeiro, o segundo e o terceiro voto de cada um dos eleitores", afirmou Malta.

A afirmação causou desconforto aos ministros Luiz Fux, atual presidente do TSE, e Ricardo Lewandowski e Cármen Lucia, que já presidiram a Corte Eleitoral. "Essa é uma imputação muito séria", afirmou Lewandowski. Em seguida, Cármen Lúcia emendou: “Muito séria. E da maior gravidade."

Procuradoria

Ao se manifestar no julgamento, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, reforçou a tese de que o voto impresso é um mecanismo de impressão automatizada somente para fins de fiscalização, que não contribui para efetivar a vontade do eleitor, porque o voto não é preenchido por ele, como nas antigas urnas de lona.

Segundo a procuradora, a norma também não previu as consequências em caso da constatação de divergência entre o voto computado e o impresso, como a eventual anulação do voto. "Essas ponderações me levaram a trazer ao plenário desta Corte considerações sobre a persistência de riscos à segurança jurídica, à confiabilidade do voto eletrônico, à prevenção de fraude na transmissão do voto eletrônico, que será verdadeiramente computado", afirmou. 

Edição: Nádia Franco