quinta-feira, 25 de abril de 2019

Mistério em lixão em Portugal


O mistério dos 158 corpos de africanos escravizados jogados num lixão em Portugal

Vicente G. Olaya 02/04/2019





 Restos de um africano escravizado encontrados em Lagos (Portugal).
© Dryas Arqueología LDA Restos de um africano escravizado encontrados em Lagos (Portugal).


A Europa reabriu em 2009 as bocarras dos infernos quando a Prefeitura de Lagos – hoje uma plácida, ensolarada, turística e bela cidade do Algarve português – decidiu construir um estacionamento subterrâneo alguns metros além de suas muralhas medievais, em uma área urbana conhecida como Vale da Gafaria. As escavadoras iniciaram seu trabalho e começaram a brotar dezenas de ossos de seres humanos. Maria Teresa Santos Ferreira, professora de Antropologia da Universidade de Coimbra, foi ao local com sua equipe.]

 Hoje, dez anos depois, os resultados de sua pesquisa foram publicados no International Journal of Osteoarchaeology: eram os corpos de 158 africanos escravizados, cujos restos foram abandonados em um depósito de lixo no começo do século XV. Arrancados de sua terra pela violência e vendidos por traficantes, muitos deles não conseguiram suportar a viagem à Portugal. As ossadas de homens, mulheres e crianças – seis dos quais foram lançados ao depósito com pés e mãos amarrados com cordas – demonstram as circunstâncias desumanas das primeiras explorações portuguesas pela costa oeste do continente.



Santos Ferreira, com um dos restos humanos de Lagos.
© Dryas Arqueología Ltda. Santos Ferreira, com um dos restos humanos de Lagos.

O Infante Henrique o Navegante (1394-1460) foi o primeiro dos grandes exploradores dos mares da África e das ilhas do Atlântico. Suas caravelas sulcavam as costas partindo do maior porto do sul do reino, Lagos, uma cidade que logo se transformaria no grande bazar europeu de carne humana. “Os escravos”, diz Santos Ferreira, “vinham das batidas feitas na parte ocidental do continente, assim como da compra dos traficantes muçulmanos, que por sua vez os traziam do interior da África”. Por isso, as análises determinaram que os enterrados vinham de populações banto (fundamentalmente na África subsaariana, com exceção do sul e da costa leste).

Os barcos portugueses chegaram pela primeira vez em 1444 ao litoral do Senegal e logo retornaram ao porto de Lagos carregados de mercadorias, incluindo pessoas escravizadas, diz o relatório. Mas em 1512, o rei Manuel I ordenou que Lisboa tivesse a exclusividade do tráfico de escravos. De qualquer maneira, e ainda que Lagos tenha perdido importância, as naus continuaram chegando a esse porto antes de alcançar a capital.

 Não se sabe quantos africanos escravizados entraram em Portugal nesses séculos, porque os arquivos se perderam durante o terremoto de Lisboa em 1755. Mas se calcula que entre 1441 e 1470 chegaram por volta de mil africanos por ano e quase 2.000 anuais nas duas décadas seguintes, um número que se manteve estável e diminuiu a partir de 1530.

O estudo – do qual, além de Santos, participaram Catarina Coelho a, João de Oliveira Coelho, David Navegaa, Sofia N. Wasterlaina e Ana Rufino e que contou com o apoio do Archaeological Institute of America e da Fundação Gerda Henkel – estabelece que os corpos foram colocados no depósito de lixo entre os séculos XV e XVII, e que muitos daqueles infelizes sofreram em vida traumatismos e lesões degenerativas. Os especialistas analisaram o sexo de 88 deles (56,31% de mulheres, 29,13% de homens e o restante indeterminado). A idade de sua morte foi estabelecida entre os 20 e 30 anos em 32% dos casos, os 30 e 40 anos para 40% e 6,59% com mais de 40 anos.


Escavação do estacionamento, no centro o depósito de lixo com os corpos.
© Excavación del aparcamiento, en el centro el vertedero con los cuerpos. (Dryas Arqueologia Ltda.) Escavação do estacionamento, no centro o depósito de lixo com os corpos.

Além dos adultos, a equipe da empresa Dryas Arqueologia LTDA. encontrou também 31 menores (“não-adultos”), em muitos dos quais foram detectadas alterações nas dentições e um atraso no crescimento. De acordo com o estudo, os menores foram expostos “a duras condições”, o que lhes provocou déficits nutricionais que se refletem em suas estruturas ósseas, com osteoporose cranial e falta de esmalte nos dentes. Isso, por sua vez, evidencia suas “duras e curtas vidas”. 

Os antropólogos, entretanto, vislumbraram algum sinal de humanidade no enterro dos menores, já que em 66,7% dos casos “parecem ter sido enterrados com mais cuidado do que os adultos”. Desses últimos, 79,4% não seguiam a “habitual orientação cristã da época, com a cabeça na direção oeste e os pés na direção leste”.

Naquela época, somente as pessoas batizadas podiam ser enterradas dentro da cidade. “Os escravos, evidentemente, não eram, de modo que seus corpos foram depositados nos depósitos de lixo, como poderia acontecer, por exemplo, com os animais. Essa situação mudou posteriormente e passaram a ser enterrados dentro da cidade”, diz Santos Ferreira.

Nos corpos analisados, foram encontradas evidências de que quatro mulheres, um homem e um menor de idade foram amarrados antes de morrer, o que deixa claro como esses “indivíduos escravizados foram tratados, mesmo na hora de sua morte”.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Mudança na CNH


Mudanças na CNH vão facilitar punição de infração grave, diz ministro
Publicado em 10/04/2019 - 14:30
Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil São Paulo

CNH

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, disse hoje (10) que as mudanças a serem propostas na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) vão tornar mais rápida a punição de infrações graves. Segundo ele, o objetivo é aumentar de 20 para 40 pontos o limite para suspender o documento. “Se você observar o que está acontecendo, os órgãos de trânsito não estão tendo capacidade de processar e fazer a suspensão quando se atinge os 20 pontos”, ressaltou, após participar de seminário promovido pelo jornal Valor Econômico. 

Segundo Freitas, a maior parte da pontuação distribuída aos motoristas não corresponde a condutas graves. “As infrações, em sua maioria, são bestas, muito leves. Então, no final das contas, é burocracia”, disse. Por isso, aumentar o limite de pontuação é uma forma de abrir espaço para executar as sanções nos casos mais graves, como embriaguez ao volante, segundo o ministro. “A gente simplifica o processo de suspensão naquilo que é grave e aumenta a pontuação, até para que os órgãos tenham capacidade de processar naquilo que é leve”, disse. As mudanças, que devem incluir o aumento do tempo de validade da carteira de cinco para dez anos, serão feitas por um projeto de lei. Segundo Freitas, o texto será enviado até semana que vem ao Palácio do Planalto, que vai decidir o momento mais oportuno para abrir a discussão com os parlamentares. “Isso tem que ser discutido pelo Congresso”, ressaltou.
Rodovias
O ministro informou ainda que o governo pretende aproveitar o fim dos contratos de concessões de rodovias federais para rever as condições. “Estamos falando da primeira etapa de concessões de rodovias federais na década de 1990. De lá para cá, trilhamos uma curva de aprendizado”, disse, referindo-se a estradas como a Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e que tem contrato válido até 2021. Em relação aos problemas do modelo atual, Freitas afirmou que o usuário paga tarifas altas. “Temos contratos focados em obras, que privilegiam grandes taxas internas de retorno, em que o usuário acaba não percebendo o investimento. É importante oferecer à sociedade novos contratos, para que o usuário consiga perceber o motivo pelo qual está pagando as tarifas. ”
As novas licitações devem ocorrer de acordo com o modelo de outorga, quando vence a disputa o consórcio que oferece o maior valor pelo contrato. “ Acreditamos que isso também gera um incentivo para cumprimento do contrato, porque ninguém abandona um contrato depois de ter pago a outorga. ”. Entre as estradas que devem passar por novos processos licitatórios estão a BR-365, entre Jataí (GO) a Uberlândia (MG), a BR-101, no trecho que passa por Santa Catarina e a BR-153, no trecho que passa por Goiás e Tocantins.
Portos
Também está em estudos a abertura de ao menos quatro portos ao capital privado. Para começar, o governo pretende viabilizar a entrada do capital privado na Companhia Docas do Espírito Santo. “Vamos começar pela Docas do Espírito Santo. O modelo não está definido ainda: se vai ser uma abertura de capital com controle do Estado ou se é uma concessão integral do ativo portuário mantendo a empresa”, disse.Outros portos que devem ter a situação avaliada para uma possível abertura a investidores privados são os de Suape, em Pernambuco; São Sebastião, no litoral norte paulista; e de Santos, também em São Paulo.
Saiba mais
Edição: Maria Claudia
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