PM de São
Paulo agride e força jovem a dizer que “não presta” e “ama a polícia”
- 27/05/2016 19h21
- São Paulo
Bruno
Bocchini - Repórter da Agência Brasil
A Polícia Militar (PM) de São
Paulo agrediu e obrigou um jovem negro a gritar em público que não prestava,
que era vagabundo e que amava a polícia. Na ação, gravada em vídeo por
moradores em uma rua da zona leste da capital paulista, o jovem algemado é
conduzido pelo braço por um policial e seguido lentamente por um carro da
polícia.
“Eu não presto, eu amo o Tático
[Força Tática da PM], eu sou vagabundo, eu amo a polícia”, disse repetidas
vezes o jovem dominado. É possível ouvir que o agente exige: “fala mais alto”.
No final da gravação, o policial, que estava com um cassetete na mão, agride o
jovem com um golpe na cara.
A ação da polícia teria ocorrido
no último domingo (22) e foi gravada na Avenida Manuel Pimentel, no Jardim
Planalto, região de Sapopemba. É possível ver que o comércio ainda estava
aberto. O vídeo foi encaminhado pelos moradores ao Centro de Direitos Humanos
de Sapopemba (Cedeca), que acionou e representou a Ouvidoria da Polícia do
Estado de São Paulo. O vídeo pode ser visto aqui.
“A política de segurança pública
aqui do governo do estado de São Paulo é uma política de repressão aos
territórios negros, aos territórios periféricos. Há uma normativa, há uma
orientação política para que essa polícia seja violenta nesses territórios. Há
uma autorização branca para esse tipo de postura”, disse Douglas Belchior,
militante do Movimento Negro e da Uneafro Brasil – União de Núcleos de Educação
Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro Brasil).
Para Belchior, por mais que esses
casos se tornem públicos, a resposta é sempre a mesma. “A resposta padrão por
parte das chefias é que o procedimento foi algo pontual a partir da conduta
inadequada de um ou outro soldado, de um ou outro grupo, de um ou outro
batalhão, de maneira a tirar a responsabilidade da corporação e da política de
segurança pública”.
Belchior diz que a ação da
polícia foi tortura. “Tortura, bem como estabelece a Lei 9455/97, em seu Artigo
1º, Item I: 'constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental'”, disse. "Este tipo de violação
e tortura promovidas por policiais dentro e fora do horário de serviço são
recorrentes nas periferias de São Paulo. Quando não desaparecidos ou mortos,
jovens são habitualmente humilhados e torturados de maneira a servir de exemplo
aos demais adolescentes e à comunidade".
Em nota, a Secretaria de
Segurança Pública disse que o vídeo “sugere” postura inadequada dos policiais e
que um inquérito policial será aberto. “A Polícia Militar esclarece que o vídeo
sugere postura inadequada e contrária aos procedimentos preconizados pela
corporação, independentemente da infração cometida pelo suspeito, motivo pelo
qual está sendo realizada rigorosa apuração. A Corregedoria da PM irá instaurar
inquérito policial militar para identificar os policiais e adotar as medidas
cabíveis”.
Edição: Fábio
Massalli