Relatório
sobre guerra do Iraque acusa ex-premier Tony Blair de série de erros
Da Ansa
Após ser sacudido pelo Brexit, o
Reino Unido voltou a estremecer nesta quarta-feira (6) com a publicação de um
relatório oficial sobre a participação do país na guerra do Iraque, entre 2003
e 2011. O estudo, que demorou sete anos para ser concluído, fez uma série de
acusações contra o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair de equívocos e
omissões no conflito, o qual provocou a morte de 179 soldados do país.
"Em março de 2003, não havia
nenhuma uma ameaça iminente de Saddam Hussein [contra o Ocidente]",
afirmou o relatório, assinado pelo diplomata John Chicot. "A ação militar
contra Saddam Hussein não era a última opção" e "os Estados Unidos e
o Reino Unido minaram a autoridade das Nações Unidas", acusou o texto,
dando a entender que ambos os países não esgotaram as possibilidades de
resoluções pacíficas, antes de declararem guerra ao ditador, posteriormente
captura e enforcado.
De acordo com o estudo, Londres e
Washington não tinham provas reais de que o governo de Saddam Hussein produzia
armas de destruição de massa no Iraque, justificativa usada para invadir o
país.
Após a divulgação do relatório sobre a Guerra do
Iraque, houve protesto em Londres. Manifestantes se vestiram de Tony Blair e
George W. Bush com as mãos sujas de sangueWill Oliver/Agência Lusa
"A guerra foi baseada em
dados imperfeitos da inteligência e levada adiante de maneira totalmente
inadequada", diz o texto, que já foi entregue ao atual premier britânico,
David Cameron. Chicot também afirmou que as circunstâncias com as quais foi
estabelecida a guerra eram "longes de serem satisfatórias".
A publicação do documento gerou
várias repercussões no Reino Unido. Em reposta ao relatório, Blair disse que
decidiu entrar na guerra com "boa fé", por acreditar que era "o
melhor a ser feito pelo interesse do país". O ex-premier também afirmou
que assumirá a plena responsabilidade por cada erro cometido, "sem exceção
ou desculpas".
Um porta-voz das famílias de 179
militares britânicos mortos na guerra do Iraque entre 2003 e 2009 também
comentou sobre as conclusões do relatório e pediu que o país não entre mais em
conflitos como aquele.
Anunciado em 15 de junho de 2009
pelo então premier Gordon Brown, o estudo assinado por Chilcot tem como
objetivo esclarecer o papel do Reino Unido na guerra do Iraque, assim como as
ações militares do país no período. O relatório demorou sete anos para ser
concluído e custou 10 milhões de libras esterlinas (R$ 43,11 bilhões).
Em 2001, após os atentados contra
as Torres Gêmeras, cometido pela Al-Qaeda em Nova York, Blair prometeu ao
governo norte-americano, liderado pelo então presidente George W. Bush, apoio
total na luta contra o terrorismo. Bush queria invadir o Iraque rapidamente,
mas Blair conseguiu convencer o mandatário a tentar um aval das Nações Unidas.
Armas
químicas
Um dossiê britânico, então, foi
apresentado acusando o regime de Saddam Hussein de ter capacidade para produzir
armas biológicas e químicas de destruição em massa. O então secretário de
Estado norte-americano, Colin Powell, também disse que "não tinha
dúvidas" que de o Iraque possuía um arsenal.
No entanto, peritos enviados
pelas Nações Unidas não encontraram sinais de armas nucleares, biológicas ou
químicas no Iraque.
Ignorando a posição da ONU, o
procurador-geral Lord Goldsmith, disse para Blair que um ataque ao Iraque
poderia ocorrer legalmente, mesmo sem o aval do organismo internacional.
Milhares de pessoas marcharam pelas ruas de Londres para protestar contra a
iminente participação do Reino Unido em ações militares no Iraque.
Em março de 2003, Blair decidiu
seguir adiante e logo foram iniciados bombardeios de uma coalizão internacional
liderada pelos EUA, com o apoio de Londres, na Operation Iraqi Freedom
(Operação Liderdade ao Iraque, em tradução livre). A guerra provocu a morte de
25 mil pessoas, sendo 4,8 soldados mil norte-americanos, 179 britânicos e 139
de outros países.
Até hoje, o Iraque sofre com a
divisão entre sunitas e xiitas, que acabou influenciando na criação de grupos
extremistas, como o Estado Islâmico. As armas de destruição em massa no Iraque
nunca foram encontradas.
Edição: Graça
Adjuto