Respeito aos direitos humanos pode
fragilizar segurança na França, diz professor
- 14/11/2015
17h36
- Brasília
Marieta Cazarré - Repórter da Agência Brasil
A
França é um país visto internacionalmente como símbolo da liberdade, da
tolerância e do respeito aos direitos humanos. Exatamente por esse motivo é
mais vulnerável a ataques terroristas. Esta é a opinião do professor do
Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Estevão de
Rezende Martins.
Para
Martins, a França tem um cuidado especial com o respeito aos direitos humanos e
isso gera fragilidade na segurança do país. “Nos Estados Unidos, por exemplo,
eles têm o chamdo ato patriótico, que suspende garantias. Isso não acontece na
França”, disse.
O
“ato patriota” é uma lei dos Estados Unidos, aprovada após os ataques
terroristas de 11 de setembro de 2001, que tem por objetivo reforçar a
segurança interna e aumentar os poderes das agências de cumprimento da lei para
identificar e prender terroristas. A lei é controversa. Há quem acredite que é
útil nas investigações e prisões de terroristas, mas há quem critique por
entender que ameaça direitos civis.
Na
França, suspeitar que um cidadão tenha relação com agentes terroristas não é
razão suficiente para prendê-lo, disse o professor. “Isso cria um entrave para
as ações dos serviços de segurança”, explicou.
No
entanto, após os atentados de ontem (13), em Paris,, o Conselho de Ministros da
França baixou hoje (14) decreto declarando estado de emergência no país com
vigência imediata em toda área metropolitana da capital francesa e também na
Córsega. O decreto dá poderes à polícia para impedir a circulação de pessoas na
capital francesa, permite o acesso à casa de qualquer pessoa cuja atividade
seja considerada perigosa, o fechamento provisório de salas de espetáculo e de
lugares públicos que reúnam muitas pessoas, o recolhimento de armas e também a
realização de buscas administrativas.
Para
Estevão Martins, como o atual governo é do partido socialista, há um receio dos
governantes franceses em adotar táticas duras de repressão, pois são
consideradas bandeiras da extrema-direita. “Mas, para algumas pessoas, o
direito às liberdades públicas pode ser interpretado como liberdade demais,
principalmente após um atentado como o de ontem”.
Na
opinião do professor, depois que a França declarou guerra ao Estado Islâmico e
realizou bombardeios na Síria, criou um espaço ideal de ataque. Estevão Martins
considera provável que os terroristas sejam cidadãos franceses “e pouco importa
a origem, pois ao serem cidadãos, fica mais difícil coibir. “O ladrão não
avisa, simplesmente ataca”.
O
professor afirmou ainda que a ação foi organizada e “eles certamente tiveram
treinamento militar e disciplina armada”. Um dificultador na coerção destes
atos, observou, é o fato de que eles têm a ideologia do heroísmo, onde perder a
vida não é um problema. “É uma lógica contrária à ocidental, da defesa da vida.
Essa lógica não se aplica aos terroristas, que não têm problema em perder a
vida. Então eles desconcertam, desarmam o outro”.
Edição: Lana Cristina
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