Tecnologia
poderá ajudar na implantação do novo Ensino Médio
Publicado
em 13/11/2018 - 09:15
Por Mariana
Tokarnia - Repórter da Agência Brasil Manaus
O tema da redação do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano - Manipulação do comportamento do
usuário pelo controle de dados na internet - não foi novidade para estudantes
da Escola Estadual Raymundo Sá, em Autazes, no Amazonas.
Na semana antes da prova, eles
tiveram uma aula sobre o poder da internet. O professor que ministrava a aula
não estava na sala com os alunos, mas a mais de 100 km de distância, em Manaus.
Professores do Centro Nacional de Mídias de Educação gravam aulas e
interagem com alunos de todo o Brasil (Marcelo Camargo/Agência
Brasil)
A aula de Tecnologia foi
transmitida pelo Centro Nacional de Mídias da Educação (CNME) apresentado hoje
(13) pelo governo federal.
“O Enem estava cansativo, mas a
gente sabia os conteúdos”, afirmou a estudante do 3º ano do ensino médio da
escola, Karine Meireles, 17 anos. Ela participa das duas aulas que são
oferecidas na escola pelo CNME - Tecnologia e Mundo do Trabalho.
“Fico com mais vontade de sair da
sala para vir para cá porque aqui a gente interage mais. Na sala, é só estudo e
caderno, não pode conversar. Aqui é diferente, a gente conversa e troca ideias
sobre o que está sendo ensinado”, disse.
O CNME foi criado pelo Ministério
da Educação (MEC) para ajudar na implantação do novo ensino médio, lei aprovada
em 2017.
Pela nova lei, os estudantes
passarão por uma formação comum a todo o país, definida pela chamada Base
Nacional Comum Curricular e por uma formação específica, que poderá ser em
linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino
técnico.
A oferta da parte diversificada
do currículo é um problema, sobretudo, para municípios pequenos que às vezes
contam apenas com uma escola. O CNME surge para, com o uso da tecnologia,
complementar o ensino.
O projeto leva TV, câmeras,
microfones e outros equipamentos necessários para interatividade a escolas de
ensino médio. As aulas são transmitidas ao vivo, de Manaus.
Nas salas de aula, elas são
acompanhadas por professores, que auxiliam também no aprendizado dos alunos
presencialmente.
Ainda na fase piloto, as aulas
são transmitidas desde agosto a 150 escolas em 17 estados e no Distrito
Federal, que aderiram ao programa.
Na escola Raymundo Sá, a sala de
transmissão na escola é diferente. Os alunos não sentam em carteiras
enfileiradas, mas se dividem em quatro mesas redondas.
Estudantes de Autazes, no Amazonas, durante aula de Educação a
distância (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Participam estudantes do 1º ao 3º
ano do Ensino Médio, que aprendem juntos. A televisão, equipada com câmera e
microfone, ocupa posição de destaque.
Antes de começar a aula, a
professora Lourdes Cunha define os estudantes que serão responsáveis por fazer
um resumo da aula, aqueles que farão uma avaliação ao final de como foi a aula,
os que se encarregarão que as tarefas pedidas sejam executadas e aqueles
responsáveis pela socialização - momento inicial de descontração, transmitido
para as todas as escolas participantes.
Iinteratividade
A professora Lourdes Cunha, da escola Raymundo Sá,
dá aula produzida pelo Centro Nacional de Mídias de Educação (Marcelo
Camargo/Agência Brasil)
A escola é conhecida por se
destacar na interatividade. As aulas acontecem simultaneamente nas 150 escolas
e a plataforma permite que os alunos se comuniquem.
“Ninguém interagia e a gente
começou a se comunicar com outros estudantes. Criamos um meme e mostramos
na câmera, daí as outras escolas se soltaram e criaram também memes”,
conta Nyeslly Nascimento, 17 anos, do 3º ano.
A primeira pergunta feita na aula
acompanhada pela Agência Brasil foi: “Para pensar sustentabilidade,
precisamos usar a estatística? Expliquem”.
Os estudantes tiveram alguns
minutos para discutir em grupo e elaborar uma resposta. A escola foi a
escolhida para dar a resposta. Quem pegou o microfone foi Maria Luiza Gomes, 17
anos, estudante do 2º ano.
Com as aulas, ela perdeu a
timidez. “Antes desse curso eu praticamente não tinha amizade, eu não falava
com ninguém aqui e olha que a gente estuda na mesma escola. Com o curso, a
gente se fala mais, se comunica”, disse.
Das aulas que teve, Maria Luiza
destaca a de casas sustentáveis, na qual tiveram que projetar uma casa que
agredisse minimamente o meio ambiente, com cartolinas e outros materiais, e a
aula de moedas virtuais: "Foi uma novidade para nós pensar que lá na
frente não precisaremos mais usar dinheiro", revelou a estudante.
Aluno da escola estadual Raymundo Sá, no município de Autazes, participa
de aula a distância (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
"Tentamos sempre trazer
temas inovadores, contemporâneos", disse a professora de Mundo do
Trabalho, Edivânia Barros. Antes de chegar a Manaus para fazer parte da equipe
de 15 professores responsáveis pelas aulas transmitidas, ela lecionava em
Salvador, na Bahia.
Todos os professores são de redes
estaduais de educação e têm, portanto, experiência em sala de aula no ensino
médio. Edivânia contou que eles recebem formação para dar aulas com o auxílio
da tecnologia, o que era novidade para ela.
Experiência Nacional
O CNME é inspirado no Centro de Mídias de Educação do
Amazonas, criado em 2007 para atender a comunidades indígenas e
ribeirinhas isoladas no estado.
O Centro do Amazonas recebeu
prêmios nacionais e internacionais. Tornar a experiência nacional é um desejo
antigo do ministro da Educação, Rossieli Soares, que já foi secretário de
Educação do Amazonas.
A intenção, segundo ele, é
oferecer uma possibilidade a mais para as escolas. Elas e as redes têm
autonomia para decidir como as aulas integrarão o currículo, podendo ser
ofertadas, por exemplo, no contraturno, no horário oposto ao das aulas
regulares.
Os cursos ofertados inicialmente
foram demandados pelas secretarias estaduais de Educação: Mundo do Trabalho e
Tecnologia.
O ministro da Educação disse que
não se trata de um ensino a distância, em que os estudantes escolhem o horário
que estudarão e o fazem sozinhos, mas de um ensino presencial mediado por
tecnologia.
“Acho que é uma boa oportunidade
para avançarmos no novo ensino médio. Têm municípios que só têm uma escola. O
Centro de Mídia pode ser boa oportunidade, uma discussão necessária para o
Brasil. Trata-se de tecnologia adequada para o ensino na escola. É diferente de
simplesmente jogar tecnologia dentro da escola. Com tecnologia, por si só, os
resultados dos estudantes caem”, disse o ministro.
As aulas podem ser acessadas por aplicativo e
também estão disponíveis na Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais.
Continuidade do projeto
O CNME é um projeto do MEC e do
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), com implementação
apoiada pela TV Escola e Fundação Roberto Marinho.
O ministro espera que, mesmo com
a troca de governo, o Centro Nacional seja mantido. “O novo governo já
sinalizou que quer usar tecnologias. Vamos apresentar o projeto. As
perspectivas são gigantes. A gente pode falar de formação de professores, de
debate de professores com essa ferramenta”, afirmou.
O ministro da Educação
acrescentou: “Quando se conhece as experiências nas escolas e a funcionalidade
[da ferramenta], não encontramos resistência. A resistência teria se as pessoas
entendessem que vamos substituir professores. Não é essa a intenção do projeto.
Pelo contrário, não temos a intenção de fazer isso e não faremos. Temos que ter
clareza que é a soma de uma ferramenta a mais”.
Ao todo, segundo a diretora de
Apoio às Redes de Educação Básica, do MEC, Renilda Peres de Lima, que é
responsável pelo projeto, deverão ser usados, neste ano, R$ 35 milhões. Segundo
ela, recursos suficientes para iniciar as aulas no ano que vem.
Para 2019, mais R$ 40 milhões
estão previstos no projeto da Lei Orçamentária Anual, em discussão no Congresso
Nacional.
A intenção é que o projeto possa
ser ampliado para mais 350 escolas que serão escolhidas ainda este ano.
Negociações com estados também estão em andamento e os próprios entes poderão
seguir o modelo do centro. Com isso, a expectativa de alcance em 2019 sobe
para mil escolas.
Regulamentação
O novo ensino médio foi
sancionado no ano passado. A lei 13.415/2017 permite que, para cumprir as
exigências curriculares do ensino médio, as aulas sejam dadas a distância
ou mediadas por tecnologia.
As novas diretrizes do ensino médio, aprovadas na semana passada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), permitem que até 20% no ensino regular e até 30% no ensino médio noturno sejam ministrados à distância.
Pelas novas regras, as aulas a
distância deverão ser preferencialmente dadas na formação específica, mas
poderão ser também aplicadas na parte comum. São necessários, no entanto, suporte
tecnológico e pedagógico apropriados. Os estudantes têm de ter necessariamente
acompanhamento e coordenação de um professor da unidade escolar onde estão
matriculados.
No ensino fundamental, pela lei
de diretrizes e bases da educação nacional, a educação a distância pode ser
utilizada apenas como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais a estudantes que, por motivo de saúde, estejam impedidos de
acompanhar o ensino presencial; estejam no exterior; vivam em localidades que
não possuam rede regular de atendimento escolar presencial; sejam transferidos
compulsoriamente para regiões de difícil acesso, incluídas as missões
localizadas em regiões de fronteira; e estejam em situação de privação de
liberdade.
* A
repórter viajou a convite do Ministério da Educação
Edição: Kleber
Sampaio
Tags: ensino médio MEC
Amazonas
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