DISPENSA MILIAR PARA GAYS
COMPROVADOS
O serviço militar é mandatório
para todos os homens em muitos países — e, em alguns casos, inclusive para as
mulheres! Na Turquia, todos os cidadãos do sexo masculino devem se apresentar
ao Exército a partir dos 20 anos de idade — e só se livram de cumprir com suas
obrigações militares aqueles que sofrem de alguma doença grave, de deficiência
física ou que conseguem provar que são homossexuais.
Entretanto, de acordo com Emre
Azizlerli, da BBC, provar a própria
homossexualidade para médicos e comandantes do Exército turco não é uma tarefa
nada simples. Na verdade, segundo contaram alguns homens que passaram por essa
— incrivelmente — constrangedora experiência, convencer os militares quase
sempre envolve situações profundamente humilhantes.
Lidando com tabus
A Turquia, como você deve
saber, é um país muçulmano e, portanto, algumas questões — como é o caso da
orientação sexual — ainda são consideradas tabus. Por lá, ao contrário do que
acontece com outros países seguidores do islã, não existem leis específicas
contra a homossexualidade e, por sorte, ao longo dos anos, especialmente nas
grandes cidades, os gays estão se tornando gradativamente mais presentes.
Contudo, enquanto em Istambul
diversos cafés e clubes voltados para o público gay foram inaugurados
recentemente, em cidades menores e regiões mais remotas do país assumir a
homossexualidade publicamente é algo simplesmente impensável. No Exército, a
orientação sexual dos militares é uma questão bem problemática.
Invasão de privacidade
Segundo Emre, as exigências
basicamente dependem da boa vontade dos militares, mas geralmente envolvem a
realização de testes de personalidade e a apresentação de fotografias . No caso
de um rapaz identificado pela BBC como Ahmet, ele informou aos oficiais a
respeito de sua orientação sexual já durante os exames médicos preliminares.
Conforme contou, ele teve que informar se gostava de futebol e se costumava
usar roupas ou perfume feminino.
Para piorar, os militares pediram
que Ahmet apresentasse uma foto dele vestido de mulher — mas, o turco fez
melhor: ele entregou uma imagem sua beijando outro homem.
Outro rapaz — identificado pelo
nome de Gokhan —, que se apresentou ao serviço militar ainda nos anos 90, até
tentou esconder sua orientação sexual quando ingressou no
Exército. Segundo disse, ele temia sofrer agressões por parte dos demais
jovens, mas, quando finalmente reuniu a coragem necessária para revelar ao seu
comandante que era gay, o militar pediu a ele que mostrasse fotografias que
comprovassem sua homossexualidade.
Gokhan contou que apresentou uma
imagem na qual aparecia fazendo sexo — e adicionou que, para que as “provas”
sejam aceitas, o rosto deve estar visível, e o turco que buscava dispensa
militar precisaria aparecer como passivo. As imagens convenceram os médicos e
comandantes, mas, evidentemente, a situação, além de desnecessária, foi muito,
muito desagradável.
Justificativa
A BBC também conseguiu conversar
com um general aposentado do Exército turco chamado Armagan Kuloglu, que
explicou que não existe qualquer problema com militares que escondem sua
orientação sexual.
Entretanto, de acordo com ele, a
presença de homossexuais nas Forças Armadas é vista como uma dificuldade, já
que cria a necessidade de que sejam disponibilizados banheiros, dormitórios e
outras facilidades para o uso exclusivo desses homens. Segundo o general, as
medidas servem para evitar que homens heterossexuais digam que são gays só para
receber a dispensa de cumprir o serviço militar.
Já um psiquiatra que conversou
com a BBC disse que os médicos que trabalham para o Exército estão sob uma
enorme pressão, pois precisam diagnosticar a orientação sexual dos cadetes — o
que não é ético nem possível, já que a homossexualidade não é uma doença! No
entanto, infelizmente, os hospitais turcos ainda a definem dessa forma.
Além disso, é bastante comum que
os empregadores turcos questionem os candidatos sobre os registros que atestem
que eles concluíram o serviço militar. Assim, demais do constrangimento de
provar a homossexualidade para o Exército, a dispensa gera outros problemas, já
que muitas empresas se recusam a contratar gays.
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